sábado, 1 de dezembro de 2012

O médico responsável pela reabilitação do iatista sabe

Empolgado, ele sempre foi. Nos anos 70, após concluir residência no Hospital das Clínicas de São Paulo, Marco Antônio Guedes escolheu a Amazônia para iniciar a carreira de traumatologista, ortopedista e fisiatra graduado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Tinha vinte e poucos anos, mulher, uma filha pequena e uma prótese na perna esquerda, que pesava mais de 3 quilos e doía a cada passo que dava. Amputado abaixo do joelho, ao completar o 5º ano de faculdade — sua moto bateu de frente em um ônibus —, o jovem médico foi ser o único traumatologista da região do Jari, num hospitalzinho de oitenta leitos, para uma população de 40.000 pessoas. Hoje, dirige uma das mais completas clínicas de reabilitação de amputados, onde atende desde quem paga com gratidão (já recebeu um frango congelado e doces em compota como forma de pagamento) até quem pode arcar com o custo das próteses de tecnologia mais avançada, que varia de 8.000 a 25.000 dólares. Por ser ele mesmo um amputado, o doutor Guedes, 50 anos, conhece a fundo os picos de euforia (por estar vivo) seguidos de depressão abissal (por estar amputado) de seus pacientes. O processo de reabilitação física e psicológica é duríssimo. Mas quem vê o doutor Guedes preparar sua mochila de 25 quilos para mais uma expedição de bicicleta no Canadá, ou ouve seu relato de uma aventura recente no Nepal, compreende que a reabilitação de um amputado é, também, empolgante. Para o iatista Lars Grael, que teve a perna direita decepada por uma lancha, no último dia 6 de setembro, a longa jornada está apenas começando. O doutor Guedes participou das nove cirurgias realizadas em Lars pela equipe médica do hospital Albert Einstein, de São Paulo. E, a partir de agora, comanda seu processo de adaptação à prótese e reabilitação. A entrevista que concedeu a VEJA na semana passada, franca e aberta, aborda feridas nem sempre cicatrizadas. Veja — O fato de Lars ser atleta ajuda na sua recuperação? Guedes — Sem dúvida. Lars é jovem e tem um organismo privilegiado. Cicatriza rápido. Do ponto de vista da reabilitação física, ser jovem ajuda. Mas, do ponto de vista psicológico, o jovem é muito afetado por uma amputação, pois ela ocorre na fase em que mais cultuamos nosso físico. Felizmente, Lars tem uma cabeça positiva. Seu amadurecimento interior, equilíbrio e desprendimento pessoal são singulares.

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